Texto Anna Clara Mellado
Com um estilo próprio e personalidade, Carlos é um sucesso no Rio Grande do Sul e em vários outros estados do Brasil
No mês de junho, Fabiano Niederauer, criador da Inesquecível Casamento e empresário do mercado de Marketing, realizou uma live em seu canal do Youtube com o estilista Carlos Bacchi, que, segundo o próprio Fabiano, é um verdadeiro artista quando o tema é vestido de noiva. Com um estilo próprio e personalidade, Carlos é um sucesso no Rio Grande do Sul e em vários outros estados do Brasil, sendo referência no mercado.
Durante o bate-papo, os dois conversaram sobre a atual situação do mercado – em meio à Pandemia, além de destacarem assuntos de suma importância, como tendências, processo de criação e deixou dicas imperdíveis para os futuros noivos.
Confira a seguir como foi esse bate-papo:
Carlos, me fala um pouco sobre seu trabalho, como começou, como você se define? Fale um pouco sobre o Bacchi estilista profissional.
Eu venho de outra formação. Fiz Educação Física antes de fazer Moda, estava sem saber muito bem o que eu queria, naquela fase adolescente e eu sempre tive muitas referências de arte na minha casa. Minha mãe é artista plástica, meu avô era alfaiate e eu sempre fui incentivado à mexer com arte, com cor, textura, esse tipo de coisa. Resolvi testar História da Moda. Prestei vestibular aqui no Rio Grande do Sul, entrei, não sabia nada: o que era máquina de costura, linha, não conhecia nada disso. Foi um mundo que eu fui apresentado nesse primeiro momento e que eu amei. Isso é muito engraçado, porque os professores que eu tive nesse primeiro momento são de extrema importância, porque foram eles que fizeram eu gostar disso que eu estou fazendo, então sou bem feliz com isso. Enfim, acabei cursando 2 anos no sul e nesse meio tempo eu perdi uma irmã, então tudo na minha família estava estranho e eu pedi aos meus pais se eles topavam eu estudar fora e eu acabei indo para a França, fiz uma inscrição no Istituto Marangoni, uma escola com cede italiana (Milão) e acabei fazendo um curso de 1 ano lá, totalmente voltado para desenvolvimento de coleção, nesse curso fui aperfeiçoando quase tudo o que estava aprendendo no Brasil. Era basicamente a mesma coisa, só que com técnicas diferentes, então foi bem legal e tudo o que eu uso hoje no ateliê é uma mistura desses dois lugares: França e Brasil. Aqui aprendi tudo: a costura, como modelar, como fazer as peças e na França eu aprimorei com outras técnicas. Depois que me formei nesse curso de Paris, fiz alguns cursos de curta duração na Inglaterra e até na França mesmo. Os famosos “summer courses” – de 1 ou 2 semanas fui escolhendo o que tinha interesse, que é o que eu uso no Ateliê.
Fale sobre seu estilo minimalista arquitetônico
A gente fala que o ateliê tem esse estilo minimalista porque tem uma caminhada um pouco marcada por alguns momentos. Quando eu comecei o ateliê (em 2012), a gente tinha uma demanda de vestidos. Eram vestidos que misturavam muitas informações: bordados, renda, muita coisa e com o passar do tempo essas coisas foram se diluindo. Se você pegar para ver o estilo de hoje, ele não tem mais um vestido que tem tudo ao mesmo tempo, bem clássico de um vestido de noiva. O ateliê foi dosando isso para que cada vestido tivesse um tipo de informação. Quando é liso, a informação é o corte, quando é bordado, a informação é o bordado… e eu chamo de minimalista, mas nem sempre dá para dizer que todas as peças do ateliê são minimalistas. Mas o corte e a estrutura são os itens que eu mais gosto, às vezes as pessoas gostam de ter um vestido incrível e eu já acho incrível desde a construção, já é uma peça que no início que já ficou impecável. Como o ateliê é jovem, eu já acho que é importante, pois já conseguimos definir o tipo de produto que o Ateliê faz.
Era isso que eu ia falar: você não tem tanto tempo assim, mas você parece que já imprimiu uma assinatura com um conceito. A assinatura é uma prova que você tem um trabalho diferenciado, né?
Como você define o ápice do momento? Qual o estilo do momento?
Uma das coisas importantes pra mim é que a gente olhe o vestido daqui a uma semana, 1 ou 10 anos e continue achando elegante e bonito, então pra mim isso é ponto principal. Agora, existem itens, por exemplo, as mangas, que começaram a aparecer e vir pro vestido de noiva. Mas o grande lance é a dosagem, é manter uma dosagem, que tenha uma informação de moda mas que não seja uma coisa passageira como essas tendências curtas. Estamos agora na tendência das mangas bufantes, mas já não dá para fazer mais porque nós temos que pensar já daqui a 10 meses, então até lá não vai mais fazer sentido. O vestido da Jana, por exemplo, é todo fashionista, com a manga, mas já fazem 3 ou 4 meses que ela já casou e nós já estávamos preparando esse vestido antes e veio no momento certo, mas não podemos repetir para daqui a pouco, porque é um item de moda fast fashion, de moda passageira. Temos que dosar sempre para manter o vestido lindo pelo maior tempo possível.
Até que ponto você orienta a noiva na questão de cabelo, maquiagem, jóia, buquê. O equilíbrio dela com o vestido? Você pensa também no look da noiva? E não somente no vestido?
Isso é muito importante, porque as vezes você pode caprichar no vestido e na hora da produção, cabelo, véu e grinalda estragam totalmente o vestido. Então o que eu percebo, nesses 8 anos que se passaram, que as clientes estão me deixando mais à vontade para sugerir nas decisões e isso para mim faz a diferença, no contexto total, na harmonia. Os casamentos que são um sucesso, são um sucesso por conta da harmonia. Eu goto sempre de sugerir, expressar o que ficaria bom e sinto que isso vai melhorando. As coisas vão se tornando mais “de casa”. Então o conjunto harmônico faz ter uma diferença total do sucesso do vestido.
Que tipo de buquê não usar?
É uma escolha muito pessoal, mas eu não gosto de buquês com formatos definidos. Bolinha, cascata, todas as flores arrumadinhas… me incomoda muito. Eu gosto de algo mais natural. O buquê que eu sempre indico para as minhas noivas são buques desconstruídos. Tem que ter uma baguncinha. E uma coisa que eu acho importante é o buque ter um tamanho de acordo com o tamanho da pessoa. Muitas vezes a menina é pequena e o buquê grande ou o contrário.
Tipo físico: o que usar e o que não usar?
Do meu ponto de vista, existe a questão do tipo físico, mas existe a questão do que a menina gosta e quer usar. É uma coisa que não podemos esquecer ou cortar por causa do tipo físico. O que sempre indico: existe a questão de proporção. Não adianta cortar seus desejos por conta do tipo físico. Claro que isso bem dosado. Mas eu nunca veto com as clientes por causa do tipo físico, porque na minha cabeça o que faz sentido é esse vestido se adaptar da melhor forma pra aquela cliente, corpo, então eu não acho que tem que ser tal vestido para tal corpo. As pessoas acabam se frustrando, porque não era aquilo o sonho dela. O que a gente tem que fazer sempre é dosar sempre. Ex: se a menina tem muito quadril, você não vai sair com um vestido rodado desde a cintura, porque vai ficar aquela coisa volumosa em baixo e pequeno em cima, então tem que ter harmonia, a gente vai dosando os volumes, conforme as proporções das pessoas. O que vejo muito no atelier é que as vezes a menina tem muito busto e quer colocar bojo, é uma coisa que vai parecer maior ainda. O bojo é uma coisa que também tem que cuidar, senão não vai favorecer a pessoa. Então eu sou sempre da opinião que a pessoa pode usar tudo o que quiser no vestido de noiva mas bem dosado, bem-feito, de acordo com as proporções. E é importante pensar em harmonizar com as proporções do noivo também.
Você falou uma coisa muito legal que é a harmonia com o noivo. No Rio Grande do Sul vocês tem o “estilista do Nunes”. O Maurício, você costuma conversar com ele, como é essa troca?
O Maurício é meu amigo pessoal. Sou cliente dele também e todos os noivos que temos em comum a gente tem que conversar porque hoje em dia uma coisa que tem acontecido muito é o noivo não querer contar pra noiva o que eles vão usar. Então temos que conversar pra não ficar desencontrado, então falo com ele com outras pessoas também e isso faz diferença. Não dá para correr o risco do noivo chegar de um jeito e a noiva de outro.
Você acha que a noiva é quem escolhe o Carlos Bacchi? A gente sabe o que o cliente quer e tem uma aproximação com você. Qual o estilo da sua noiva?
O estilo da festa e do casamento na verdade tem de tudo. Tem um estilo só de festa, agora, em relação do vestido, sim. Elas se identificam pelo vestido bem cortado, acabado e temos que adaptar pro tipo de casamento. Às vezes tem casamentos na praia ou clássicos, em que vamos manter o DNA do ateliê, mas adaptar isso pro tipo de festa. A gente não tem um perfil de uma pessoa que se casa só na praia, ou só na igreja.
Qual o tipo de tecido mais usado num vestido de noiva?
Os tecidos: eu gosto muito de usar crepe. Os tecidos crepes são os meus tecidos favoritos disparados. Eu uso 3 ou 4 tipos de crepes diferentes. Cor: sempre cores naturais. Nunca no ateliê usamos brancos muito alvejados, então as cores do ateliê são sempre cores puxando pro algodão, ceda, linho, sem banhos e tratamentos químicos, independente se o vestido for de tecido sintético ou natural, a cor faz a diferença, porque muitas vezes, mesmo que seu vestido seja de um tecido mais barato, mas está na cor certa, imprime outro efeito e o efeito pra mim é algo muito importante. Não adianta você estar numa ceda pura supercaro ou com um tecido superbarato e o efeito ser aquilo que você não imagina. A gente sempre fala no ateliê que se você quer fazer um vestido de 5 reais, ele tem que parecer que custou 20, não que custou menos. Então a cor é uma das coisas que mais faz diferença e eu gosto muito dessa pegada de tecido natural. Agora eu estou tendo muita demanda de tecido de linho, algo peculiar num vestido de noiva. Mas como os casamentos estão sendo na vinícola, na praia, de manhã, à tarde, no fim do dia, almoço, happy hour, o linho vai se adaptando. Linho é meu tecido favorito, mas não em vestido de noiva, na vida pessoal mesmo. Mas as noivas estão pedindo cada vez mais vestido de linho.
Você considera isso como uma tendência de momento?
Nesse caso eu acho que não. O linho é um tecido bem atemporal. O meu avô, por exemplo, que era alfaiate, a vida toda de linho, a minha mãe a vida toda de linho. As pessoas que gostam desse tipo de material usam sempre, independente se é roupa de dia ou de festa.