Texto por: Fernanda Isse
Em muitos de seus aspectos, vestuário masculino foi desenhado, ao longo da história, como uma sugestão de domínio físico e social. A criação do traje do homem, ao longo dos tempos, suprime ou oculta características que constituem a beleza masculina: ombros largos, cintura e quadris estreitos, estômago plano e pernas musculosas. O que torna o traje, quando bem feito, um aliado vantajoso, em especial, quando a ocasião exige tais atributos.
Ao preparar-se para o momento singular do casamento, cerimônia que traz luz ao momento de maior importância para a família, alguns detalhes devem ser observados. Como o look do noivo, que por coerência, precisa estar em sintonia com a importância e o estilo da cerimônia. Conversamos com os alfaiates Maurício Placeres e Vasco Vasconcelos, especialistas em bem vestir masculino, sobre a elegância do noivo nesta ocasião tão especial.
Casamentos Clássicos: Fraque e Black Tie
O tradicional fraque é formado de paletó assemelhado à casaca, preto, laterais arredondadas na frente e cauda. Acompanhado por calça de listras finas, cinza e grafite, colete, plastrom- espécie de gravata em cinza-prata sobre a camisa social branca, de punhos duplos, para abotoaduras. Meias e sapatos pretos. Escolha que acompanha muito bem a sofisticação da noiva. Em casamentos de protocolo clássico, o noivo tradicionalmente veste fraque. Para o alfaiate Mauricio Placeres é uma solicitação que deve ser muito observada devido à formalidade da ocasião e as tradições aplicadas, para que o noivo realmente vista o fraque, e não “uma fantasia de noivo”, considera.
O alfaiate Vasco Vasconcelos aponta que no exterior, em países que são referências no bem vestir, como Inglaterra, Itália e Espanha, o fraque tem tido muita procura, em especial para casamentos diurnos. Quando o noivo está usando fraque, o alinhamento deve ser observado: tanto seu pai quanto o da noiva o acompanharão. Os padrinhos que participam do cortejo vestirão também fraque, de acordo com o que for estipulado como conceito da cerimônia.
Tanto Vasco Vasconcelos quanto Maurício Placeres apontam em suas acepções que alternativas como o chamado meio fraque ou fraque curto, não são mais solicitadas, e consideradas pouco elegantes para o fraque tradicional.
Para a noite, também há a recomendação do traje Black tie, que deve seguir o mesmo conceito formal em seu uso. O smoking, formado por modelagem clássica, calça e casaco preto em lã fria com lapela em cetim, colete da mesma cor ou cinza e gravata borboleta preta- por isso Black tie. Vasco Vasconcelos recomenda que para acompanhar o smoking a camisa deve ser sempre branca. Podendo ter punhos para abotoaduras, vista coberta ou botões pretos, e gola quebrada, garantindo o acabamento perfeito com a gravata.
Traje Escuro: Tradição
Como o noivo pode estar bem vestido sem fraque? De terno escuro, ou paletó, de modelagem social, entretelada e forrada, em tecido de qualidade e bom caimento. A maioria dos noivos segue a recomendação da roupa escura. Maurício Placeres considera que é uma tradição que permanece. O traje escuro, nas cores: Preto, azul marinho ou cinza escuro. Associado a casamentos à noite e também formais.
Para Vasco Vasconcelos, a camisa deve ser impreterivelmente branca. Para o especialista, além da formalidade, que precisa ser seguida, a escolha facilita a combinação do traje, acompanhada por gravata cinza-prata ou off White. Com punhos para abotoaduras, a camisa branca em algodão fica mais especial, e o colarinho italiano favorece um nó de gravata bem feito. O alfaiate também recomenda que o uso do colete deve fazer parte do traje do noivo, como reverência e respeito à noiva. Sapatos com poucas costuras, e meias pretas complementam o traje.
Trajes em Cores Variadas: Quando Inovar?
De acordo com Mauricio Placeres, os casamentos semi formais abrem uma gama de diferentes possibilidades, pois muitas vezes não se faz necessário uma estética associada ao noivo, e sim ao estar bem vestido. Visto que, não existem, nesses casos, as formalidades de uma boda tradicional. A cerimônia, como conceito, passa a ser um momento de união e festa, sem tantos protocolos e tradições a seguir. Para estas ocasiões abre-se uma gama bem maior de opções de cores para os trajes, sempre respeitando o horário, o local e o restante dos convidados.
Para cerimônias de casamento diurnas, em ambientes como praia ou campo, estes menos formais, as possibilidades de variação no traje masculino são maiores. Segundo Vasco Vasconcelos, ternos em tecidos como linho ou sarja, em tonalidades como cáqui e bege, são opções acertadas. Nesse tipo de cerimônia, o tom da formalidade é conferido pelo uso do colete. Mesmo para noivos que dispensam gravata e meias. O uso do colete traz elegância ao noivo. Por exemplo, quando vai para a pista de dança tira o paletó, especialmente em ambientes de temperaturas quentes, mantém a elegância. Para o especialista, o uso do colete é ponto sine qua non para o noivo, ou seja, imprescindível.
Pais e Padrinhos
Ao se tratar da cerimônia de casamento, a importância obedece à ordem: noivo, pai da noiva, pai, irmãos e padrinhos. O alfaiate Maurício Placeres observa que é fundamental, no período pré-evento, a conversa sobre a determinação de um padrão estético, para que o bem vestir e a elegância não pareçam elementos esporádicos. É importante, para o especialista, que sejam reverenciadas e mantidas as tradições e não apenas “um turismo estético displicente”. Pois “o que forma a atemporalidade dos momentos é o compartilhamento desses elementos de elegância”. Defende.
Vasco Vasconcelos aponta que o tom do traje dos pais pode ser diferente do tom do traje do noivo, para que este tenha um leve destaque. Salienta que o uso do colete pelo noivo e pelos pais é uma reverência à cerimônia. Padrinhos não precisam usar o colete, mas é elegante que usem a mesma cor. Considera o especialista.
Vale salientar que as determinações estéticas para pais, irmãos e padrinhos são determinadas a partir da escolha do traje do noivo. Por exemplo, se o noivo optar por não usar gravata, a etiqueta determina que os demais convidados também a dispensarão.
Elegância os Detalhes
Para Maurício Placeres, vestir-se alinhado com a noiva e perfil da cerimônia é primordial. Ter a certeza de estar sendo bem assessorado por quem tem o devido conhecimento na área do vestir, respeitando sempre o dress code- o código do vestir: Nem over dressed- exagero, nem under dressed- casual demais.
Vasco Vasconcelos recomenda atenção a detalhes quanto ao encaixe do colete com o colarinho da camisa na nuca. Observa também que, parte da camisa entre a calça e o colete não deve aparecer. Calça bem cortada e alinhada deve estar depositada em cima do sapato, e não “quebrando a bainha sobre o sapato”. Enfatiza que “pior do que a calça curta é a calça longa em excesso, que prejudica o caimento da roupa”.
Dicas
-Um bom terno será sempre um investimento para várias outras ocasiões;
-O lenço é importante e todo o cavalheiro deve usar lenço;
-Propostas visuais garimpadas por banco de imagens virtuais podem não estar alinhadas à vida real. São um perigo;
-Não fazer uso de tênis: seja qual for o tipo de cerimônia, o uso de tênis torna o look muito casual, desmerece o traje;
-Regra de elegância: o relógio de pulso não é usado quando o homem veste fraque, pois se presume que, numa recepção de casamento, ele não esteja preocupado com o passar do tempo;
-Um noivo pode optar por diferentes estilos, mas não dispensará a qualidade. A roupa deve ser bem feita.
-A flor na lapela tem variações? Só o noivo usa cravo branco, e pais e padrinhos são reconhecidos na recepção pelo cravo vermelho na lapela. Por isso, é conveniente observar antes se o paletó tem a botoeira (casa discreta no alto da lapela do paletó), onde se enfia o caule curto da flor. Floristas previdentes oferecem um alfinete de segurança para prender o cravo, que não correrá o risco de cair durante a cerimônia e nem depois, nos cumprimentos.